sexta-feira, 7 de maio de 2010

A MULA SEM CABEÇA


A mula-sem-cabeça é um personagem do folclore brasileiro. Na maioria dos contos, é uma forma de assombração de uma mulher que foi amaldiçoada por Deus por seus pecados, muitas vezes é dito ser uma concubina ou simplesmente ter feito sexo com um padre católico, e condenada a se transformar em uma criatura descrita como tendo a forma de um equino sem a cabeça que vomita fogo, galopando pelo campo de entardecer de quinta-feira ao amanhecer de sexta-feira. O mito tem várias variações sobre o pecado que amaldiçoou a mulher a se transformar no monstro: necrofagia, infanticídio, um sacrilégio contra a igreja, fornicação, incesto, etc.


Origem
Acredita-se que o mito tenha uma origem medieval Portuguesa, e deve ter sido trazido ao Brasil no início do período colonial (século XVI ou posterior).
O conto é mais popular nos estados de Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso, mas é bastante conhecido em todo o país. Mitos semelhantes ocorrem em países vizinhos latino-americanos, como, por exemplo, esta história também é conhecida entre os mexicanos como La Malora e entre os argentinos como Mula Anima.


Aparência e características
A aparência da Mula varia muito de região para região. Sua cor é mais comumente dada como marrom, outras vezes, preto com uma cruz branca no peito. Tem ferraduras de prata (ou ferro) que produzem um trote hediondo, mais alto do que qualquer cavalo é capaz de produzir, em outras versões seus cascos é que são de metal. Apesar de ser decapitada, a Mula ainda relincha, geralmente muito alto quando irritada, podendo ser ouvida a quilômetros de distância, e outras vezes, quando mais quieta, geme como uma mulher chorando. Ao invés de cabeça possui uma chama que não a queima ou consome, mas em outros casos a chama pode apenas cobrir parcialmente a cabeça, daí que se diz que a mesma solta fogo pelas ventas e possui um freio de ferro na mesma. A transformação da mulher em mula acontece também no campo psicológico. Sua mente é alterada de tal maneira que rapidamente enlouquece a noite e sai aos campos, matando gado, assustando as pessoas e causando destruição e confusão. Segundo a maioria dos relatos, a Mula é condenada a galopar sobre o território de sete povoados ou freguesias cada noite (assim como a versão brasileira do lobisomem). Segundo alguns relatos, a viagem começa e termina no povoado ou freguesia onde o pecado foi cometido. A transformação geralmente ocorre em uma encruzilhada na noite de quinta para sexta-feira, principalmente se for noite de lua cheia. Não se deve passar correndo na frente de uma cruz à meia-noite ou ela pode aparecer. Se isso acontecer, a pessoa deve ter o cuidado de não encará-la e se deitar de bruços escondendo as unhas, olhos e dentes, bem como qualquer coisa que brilhe e atraia a atenção da criatura, pois esta não tem boa visão, senão a mula avançará e atropelará a pessoa que estiver em seu caminho. A transformação pode ser revertido por derramamento de sangue se a mula for por exemplo picada com uma agulha ou amarrando-a a uma cruz. No primeiro caso, a transformação será impedida, enquanto o benfeitor estiver vivo e morando na mesma paróquia em que o ferimento foi realizado. No segundo caso, a mulher ficará em forma humana até que o sol amanhecer, mas vai se transformar novamente na próxima oportunidade. A remoção mais estável da maldição pode ser conseguida através da remoção do freio de ferro que a mesma carrega na boca por alguém de grande coragem, caso em que a mulher não vai mudar a forma de novo, enquanto o benfeitor está vivo. Amarrando as rédeas de volta para a boca da mulher voltará a maldição. Outros métodos para a remoção da maldição são mais violentos. De acordo com alguns contos, para conseguir se livrar definitivamente da mula-sem-cabeça, pode-se matar o animal ou excomungar a mulher (ou ambos, em qualquer ordem). No entanto, a excomunhão só será eficaz se for realizada antes da segunda vez que a mulher se transformar. Alguns afirmam que a mula vai deixar de aparecer de vez, depois que o sacerdote pecaminoso morrer, outros dizem que a mula vai segui-lo se ele se move para outra paróquia. Em outros relatos se a Mula for morta, ela reverterá a forma humana geralmente sem a cabeça. A remoção da praga é um grande alívio para a mulher, porque a maldição inclui muitas provações, então a mulher agradecida normalmente irá arrepender-se os seus pecados e se casar com o benfeitor. Em qualquer caso, quando a Mula reverte à forma humana da mulher amaldiçoada, esta estará completamente nua, suada e com cheiro de enxofre.


Existem várias explicações para a origem desta lenda, variando de região para região. Em alguns locais, contam que a mula-sem-cabeça surge no momento em que uma mulher namora ou casa com um padre. Como castigo pelo pecado cometido, transforma-se neste ser monstruoso.
Em outras regiões, contam que, se uma mulher perde a virgindade antes do casamento, pode se transformar em mula-sem-cabeça. Esta versão está muito ligada ao controle que as familias tradicionais buscavam ter sobre os relacionamentos amorosos, principalmente das filhas. Era uma forma de assustar as filhas, mantendo-as dentro dos padrões morais e comportamentais de séculos passados.Existe ainda outra versão mais antiga e complexa da lenda. Esta, conta que num determinado reino, a rainha costuma ir secretamente ao cemitério no período da noite. O rei, numa determinada noite, resolveu segui-la para ver o que estava acontecendo. Ao chegar ao cemitério, deparou-se com a esposa comendo o cadáver de uma criança. Assustado, soltou um grito horrível. A rainha, ao perceber que o marido descobrira seu segredo, transformou-se numa mula-sem-cabeça e saiu galopando em direção à mata, nunca mais retornando para a corte.



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