sexta-feira, 14 de maio de 2010

MOTA COQUEIRO, O ÚLTIMO ENFORCADO

Para quem não conhece a história de Mota Coqueiro, ele foi o último homem condenado à pena de morte no Brasil, em março de 1855 na cidade de Macaé, só para entenderem os fatos que aqui serão contados, farei um breve resumo da história de Mota Coqueiro; Mota Coqueiro foi um grande fazendeiro com propriedades na região de Conceição de Macabu que na época ainda era parte da cidade de Macaé no Estado do Rio de Janeiro. Um homem muito influente, de grandes negócios na região, mas de temperamento muito rude, era muito temido pela sua valentia, arrogância e pela forma cruel que tratava seus escravos. Certa feita, fechou a compra de uma grande propriedade em parceria com um meeiro que levou sua família para morar na propriedade. Passado algum tempo, a filha mais nova desse colono apareceu grávida e culpou Mota Coqueiro de ser o pai da criança. Após a descoberta, o colono começa a pressionar Mota Coqueiro a beneficiá-lo nos negócios da fazenda em prol da gravidez de sua filha. Poucos dias depois, toda a família de colonos é assassinada a golpes da facão, exceto a filha que estava grávida e que fugiu pela mata.
No total foram mortos o meeiro, a sua esposa, três filhos adolescentes e três crianças, sendo a mais nova com 3 anos de idade.
Depois do assassinato, a casa ainda teria sido incendiada, mas a chuva não deixou o fogo consumir os corpos totalmente, o que causou um cenário aterrador para o Brasil-colônia da época.
Após investigações precárias da época, Mota Coqueiro foi acusado de ter sido o mandante do crime. Como Mota Coqueiro, já tinha uma má fama na cidade pelo seu caráter e possuía muitos desafetos, as investigações do crime na época foram feitas de maneira parcial e pouco claras.
Na época, pela Constituição vigente, o Imperador que era D.Pedro II, poderia conceder a Graça Imperial para aboná-lo da pena de morte, mas o caso foi tão chocante para a época que nem D.Pedro aliviou a barra para Mota Coqueiro. E em 6 de março de 1855, Mota Coqueiro foi enforcado em praça pública na cidade de Macaé. Poucos anos mais tarde, descobriu-se através de evidências escondidas na época, Que Mota Coqueiro era inocente e tivera sido enforcado sem culpa.
Só a título de curiosidade, depois de saber que Mota Coqueiro fora condenado inocente, o Imperador Dom Pedro II, extinguiu a pena de morte no Brasil.
Mas o que há de sobrenatural nessa história? Vejamos:

O primeiro fato que se tem notícia que torna a história misteriosa, é da esposa de Mota Coqueiro Úrsula das Virgens, que durante o processo de investigação e julgamento ficou louca. Ela morava com o esposo e filhos na Casa Grande da principal fazenda e as escravas que cuidavam da casa, começaram a testemunhar ataques de loucura da mulher que gritava e se escondia pelos cômodos da casa dizendo que ouvia gritos e choros de criança a perseguindo por onde quer que fosse. Os ataques intensificaram depois da execução do esposo, que culminou em seu suicídio em um ano após a morte de Mota Coqueiro.
Outro fato marcante foi a maldição lançada na cidade pelo acusado; Antes da execução, o juiz de direito da Comarca de Cabo Frio que ordenava o julgamento, antes que subisse ao patíbulo, lhe concedeu direito ao último pedido antes da morte:
Mota Coqueiro nada pediu, mas antes de morrer suas últimas palavras demonstravam um caráter do qual ele nunca mostrou durante sua vida, perdoando à todos pela injustiça que lhe haviam feito. De acordo com os registros da época, disse ele:"O crime fez-se, porém eu sou inocente; peço perdão ao povo e à justiça, assim como eu perdôo de todo o meu coração". Mas, apesar do ato de misericórdia em perdoar os que lhe condenavam, proferiu uma maldição sobre a cidade de Macaé.
Suas últimas palavras foram:“ Esta cidade terá 100 anos de atraso pela injustiça que está sendo feita a mim". E de fato, foi o que houvera. Na época o porto de Imbetiba era o quinto mais movimentado do país, pois era portão de entrada e saída dos produtos agrícolas que eram exportados para outras cidades e capitais. Com a inauguração posterior da estrada de ferro Macaé x Campos, o porto perdeu a importância. Até mesmo o carro-chefe da economia local da época que era baseada no cultivo do café e da cana-de-açúcar entrou em profundo declínio. Muitos fazendeiros perderam tudo, pragas e mau tempo constantes destruíram plantações e gado. Em pouco tempo, a prosperidade que se via, foi por agua a baixo fazendo com que boa parte da população migrasse para as capitais, deixando Macaé apenas uma colônia de pescadores e de gente falida. Somente na década de 1960, quase 100 anos depois da execução de Mota Coqueiro, que foi descoberto o petróleo que alavancou a economia da cidade em poucos anos, fazendo hoje da pequena cidade do interior, a capital nacional do Petróleo. Os mais antigos da cidade, descendentes dos que viveram o período da “maldição” agregam veementemente que a era do Petróleo só aconteceu após o término dos 100 anos amaldiçoado por Mota Coqueiro. Coincidência??
Outro fato interessante, O local onde era a praça que Mota Coqueiro foi executado, hoje é dentro do pátio de uma das escolas mais antigas da cidade, o colégio Luiz Reid. O pátio muito grande por sinal, abrange um quarteirão inteiro, bem no centro da cidade. No exato local onde na época foi posto o patíbulo, há um memórial de pedra no chão até os dias de hoje com o nome completo de Mota Coqueiro, data de nascimento e data da execução. Certa feita, durante um período que o colégio passava por uma má admininstraçao, certas partes do mato do patio estavam muito altos, pois já havia tempo que não eram cortados. Mas ao invés de mandarem aparar a grama, acharam mais barato queimar o mato, e assim atearam fogo na grama numa noite, já que não tinha o movimento de criança correndo pra lá e pra cá. Depois de apagadas as chamas, foram ver que somente a grama em volta do memorial de Mota Coqueiro estava intacta. O que era impossível, pois o zelador confirmou que havia jogado querosene naquele mesmo local. Esse mesmo zelador (que mora num quartinho dentro do colégio) conta que muitas vezes a noite, foi acordado com gritos no pátio. Ele sempre saía para ver se era algum aluno escondido pra fumar maconha la dentro, mas procurava, rodava, rodava e nao encontrava nada, nem ninguém. Uma vez tentaram remover o memorial para duplicação da quadra poliesportiva, as obras nao foram adiante. Sempre que iam remover o memorial acontecia alguma coisa: Uma vez, foi a britadeira que quebrou (nova), outra vez foi um dos operários que quebrou o pé, mau tempo constante, falta de verba para dar andamento na obra... enfim, acabou dando-se um jeito de reformar a quadra e manter o memorial que esta lá intacto até os dias de hoje.


Manuel da Mota Coqueiro Ilustração de jornal da época do julgamento


Sabemos que Mota Coqueiro fora condenado inocente, e antes de ir para o julgamento, ele foi levado para se confessar a um padre que saiu transtornado daquele encontro. Acredita-se que Mota Coqueiro, teria confessado ao padre que sua esposa, Úrsula das Virgens teria sido a real mandante do crime, motivada pelo ciúme do envolvimento de seu marido com a jovem Francisca, filha do colono. E faz todo sentido, pois após a chacina Úrsula passou a apresentar graves crises de “loucura”, ouvia vozes, gritos e choros de criança até que não agüentando mais, se suicidou. Antes de ingerir veneno para se matar, Úrsula teria deixado uma carta confessando o crime para que sua alma fosse liberta daquele pecado e ela pudesse ser salva e encontrar a paz, mas a família de Úrsula muito tradicional e religiosa destruiu a carta e qualquer outro indício que pudesse levar à sociedade a notícia de que Úrsula fosse a real mandante do crime e uma suicida. Alegaram até o fim que ela morrera de causas naturais em prol da depressão da perda do marido. Tudo em prol do bom nome da família que na época, era mais importante do que tudo.

O caso foi encenado em 2003 pelo programa Linha Direta na Globo. Para maiores informações:

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